Kel Macettare, 41 anos, vive em Florianópolis com dois parceiros e dois filhos adolescentes. Para muita gente, isso poderia parecer uma estrutura caótica. Para ela, é simplesmente uma forma de amar com mais verdade e menos regras impostas. Influencer e defensora de um modelo familiar que foge da monogamia tradicional, Kel ocupa o centro emocional da própria história sem se apagar, sem se submeter e sem pedir desculpas por isso. “Se a liberdade é só para umas, isso não é feminismo”, diz ela, ao criticar a forma seletiva com que parte da sociedade encara escolhas afetivas que fogem do script.
A casa onde Kel vive tem rotina, afeto e acordos. Tabelas coladas na geladeira organizam as tarefas, os momentos de convivência e até o espaço íntimo entre os adultos. Não há hierarquia rígida nem controle disfarçado de cuidado. Há escuta, planejamento e muita conversa. “Aqui ninguém manda em ninguém, mas todo mundo se importa”, resume. O que ela constrói com os parceiros e com os filhos é uma convivência baseada na clareza. E, principalmente, na recusa de se encaixar no papel da mulher que carrega tudo sozinha, emocionalmente sobrecarregada e ainda invisível.
Kel não vive à margem do amor. Vive no centro dele. Mas não do centro que exige posse ou poder. Ela é o ponto de conexão entre relações diferentes, com afetos múltiplos e combinações possíveis. Enquanto muitas mulheres ainda são julgadas por desejarem autonomia dentro de uma única relação, Kel mostra que é possível amar mais de uma pessoa sem abrir mão de si mesma. “Não quero ser exemplo. Só quero que outras mulheres saibam que elas também podem criar suas próprias formas de viver o amor."
Para ela, o feminismo precisa acolher a liberdade em todas as suas expressões, inclusive as que envolvem múltiplos vínculos, desejo fora da exclusividade e maternidade fora do ideal tradicional. “Tem muita mulher falando de liberdade, mas ainda esperando que a outra se comporte como esposa. E isso não é sororidade, é julgamento disfarçado”, afirma. Suas críticas ao feminismo seletivo não são feitas de ódio, mas de vivência. E isso, talvez, seja o que mais desestabiliza quem ainda tenta colocar mulheres em caixinhas com regras fixas.
O que ela vive não é uma bagunça afetiva, como muitas vezes é rotulado o poliamor. É uma escolha consciente, com acordos, com respeito e com cuidado verdadeiro. O que incomoda, muitas vezes, é ver uma mulher livre que não precisa de autorização para existir. Que não se encaixa na ideia de que liberdade só é legítima se parecer com a da maioria. E talvez seja justamente aí que mora a força do que Kel representa. Uma mulher que lidera sua própria história com afeto, autonomia e coragem.