De acordo com o Ministério da Previdência Social, houve mais de 288 mil licenças concedidas em 2023 no Brasil devido a transtornos mentais. Esse número representa um aumento de 38% em relação ao ano anterior. Mesmo assim, nos últimos três anos não houve menos de 200 mil licenças.
Já uma pesquisa realizada pela corretora Pipo Saúde mostrou que aproximadamente 48% dos profissionais apresentam risco de desenvolver doenças mentais e 44% sofrem de insônia. Além disso, o estudo revelou que cerca de 60% são sedentários e estão com sobrepeso ou obesidade. O estudo envolveu 8.980 participantes de diversas empresas e níveis hierárquicos.
Como reverter esse cenário
Segundo Monica Machado, psicóloga e fundadora da Clínica Ame.C, e pós-graduada em Psicanálise e Saúde Mental pelo Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Albert Einstein; pode ser difícil admitir que o trabalho tem sido a sua principal fonte de estresse e ansiedade.
“Especialmente em tempos de mudanças ou incertezas, a empresa é o último lugar onde queremos que percebam nossas fragilidades emocionais. Em contrapartida, se você não respeitar seus limites físicos e mentais, não terá condições de desempenhar as tarefas profissionais e nem pessoais”, diz a apresentadora do podcast Ame.Cast.
Para Danielle H. Admoni, psiquiatra geral, pesquisadora e supervisora na residência de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM); é fundamental validar os sintomas negativos o quanto antes, para impedir que eles evoluam para transtornos graves e incapacitantes.
“Claro que não existe uma fórmula universal que funcione para todas as pessoas, afinal, cada indivíduo é único e tem recursos e situações particulares. Mas, é possível se reinventar, elencar suas prioridades e fazer escolhas certas, sem correr riscos mal calculados em nenhuma das esferas de sua vida”, pontua a especialista pela ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria).
Em homenagem ao Dia do Trabalho, em 01/05, as especialistas citam 5 formas de lidar com as adversidades da carreira sem perder o equilíbrio emocional:
Reconheça seus sentimentos: Nem sempre é fácil admitir que a saúde mental está comprometida. Muitas vezes, a pessoa finge não perceber que há algo de errado com seu emocional. Essa visão, ainda que distorcida, parece fazer sentido no ambiente corporativo. Segundo a pesquisa Anatomy of Work Special Report, 40% dos profissionais acham que o Burnout é inevitável para o sucesso.
“O perfeccionismo e a autocrítica geram um círculo vicioso. Passamos a viver tentando nos proteger das situações capazes de expor nossos defeitos ao mundo. Quando entendemos que a perfeição não existe e nos acolhemos exatamente como somos, torna-se mais fácil admitir que não está tudo bem e buscar ajuda”, analisa Monica Machado.
Respeite seu momento de descanso: Para Danielle Admoni, o universo corporativo obscureceu as fronteiras entre trabalho e casa, e as mudanças para o modelo remoto/híbrido causadas pela pandemia afrouxaram ainda mais os limites entre vida pessoal e profissional.
De acordo com o estudo Anatomy of Work Index 2023, 44% dos profissionais disseram que seus dias não têm um horário claro para começar ou terminar, e mencionaram a frequente necessidade de trabalhar fora do expediente, monitorando mensagens à noite, durante as férias ou nos fins de semana.
“Como seria se você se permitisse fazer menos e incluir momentos de descanso em sua jornada? Períodos de desconexão são essenciais para o bem-estar. Esquecer um pouco o check-list, olhar para si e fazer algo que não esteja vinculado a responsabilidades, mas ao prazer, ao conforto que tanto lhe falta. Sua mente ficará mais descansada e até mais produtiva”, aponta Danielle Admoni.
Desista de querer dar conta de tudo: No modelo de vida atual, a quantidade de tarefas que uma pessoa exige dela mesma vai além do que se pode aguentar. E quando não dá conta de tudo, ela se sente frustrada. Acorda no dia seguinte já se programando para fazer ainda mais e melhor. E a simples ideia de desacelerar se torna cada vez mais impensável.
“Saber delegar ou compartilhar funções é fundamental, caso contrário, é provável que a qualidade das tarefas fique comprometida, além de gerar exaustão desnecessária. Defina o que pode ser feito por outras pessoas, o que só pode ser feito por você e elimine de vez tudo que só te faz perder tempo”, orienta Monica Machado.
Abra o jogo com seu chefe: Dizer que o trabalho está lhe sobrecarregando não é exatamente o tipo de conversa que alguém quer ter com seu chefe. É uma situação delicada e intimidadora, especialmente quando as empresas estão querendo produzir mais com menos gente.
Conforme Danielle Admoni, é natural ter receio de como isso pode impactar na sua imagem e fazer seu chefe duvidar de sua capacidade.
“Portanto, ao aborda-lo, não leve apenas o ‘problema’. Estruture um diálogo que esclareça os motivos do seu estresse, mas, principalmente, sua preocupação em buscar soluções. Além de transparente, sua atitude mostrará que, mesmo sobrecarregado, você tem comprometimento com a empresa, já que o intuito não é trabalhar menos, e sim, melhor”.
Saiba quando pedir ajuda profissional: De acordo com a psiquiatra, nos casos em que o esgotamento chegou ao limite, é fundamental buscar auxílio médico especializado para avaliação do quadro e orientação quanto ao tratamento. “Especialmente no caso das pessoas cujas características de personalidade as tornam mais propensas ao Burnout, a psicoterapia é um complemento importante, pois o problema está, muitas vezes, dentro da pessoa, e não tanto em suas condições de trabalho”, finaliza Danielle Admoni.