Relatório produzido pela Tewá 225 analisou 319 municípios acima de 100 mil habitantes e elaborou o primeiro ranking nacional sobre qualidade de vida das mulheres nas grandes cidades brasileiras
Outros destaques do estudo:
Estudo inédito produzido pela Tewá 225 - negócio de impacto positivo que traz soluções para os desafios socioambientais das empresas, organizações e governos - revela um cenário alarmante:nenhuma cidade brasileira alcançou um índice satisfatório de igualdade de gênero. Em sua primeira edição, o estudo ‘Piores Cidades Para Ser Mulher’ aponta que 85% dos municípios com mais de 100 mil habitantes têm níveis considerados “muito baixos” no que se trata de igualdade de gênero, a partir de indicadores cruciais como: representatividade política, presença de mulheres que não estudam e nem trabalham, feminicídio, desigualdade salarial, a relação entre o perfil econômico das cidades, com especial atenção ao impacto do agronegócio no contexto regional.
O objetivo do estudo foi avaliar o desempenho de cada cidade em proporcionar um ambiente seguro e justo para as mulheres, a partir da análise de 319 municípios com mais de 100 mil habitantes (que representam cerca de 60% da população urbana brasileira). O levantamento foi realizado por meio de dados do Índice de Desenvolvimento Sustentável das Cidades (IDSC-BR) e com foco nos indicadores do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 5 (ODS 5) da ONU: taxa de feminicídio a cada 100 mil mulheres; desigualdade salarial por sexo, percentual de mulheres na câmara de vereadores; taxa de mulheres jovens de 15 a 24 anos que não estudam e nem trabalham; diferença percentual entre homens e mulheres que não estudam e nem trabalham. Cada indicador foi pontuado de 0 a 100, considerando recortes como raça, regionalidade, biomas e economia que impactam as oportunidades disponíveis para as mulheres.
“Expor as piores cidades para as mulheres é trazer à tona questões frequentemente negligenciadas, que demandam uma atenção urgente. Neste momento de renovação dos mandatos das prefeituras e do legislativo municipal, este estudo se apresenta como uma ferramenta para que os novos gestores compreendam as disparidades que ainda persistem identificadas na pesquisa e adotem políticas públicas mais assertivas. Nossa expectativa é que este ranking seja um ponto de partida para ações concretas, impulsionando as gestões a promoverem mudanças reais e a construírem um futuro mais justo e igualitário para todas as mulheres brasileiras” explica Luciana Sonck, mestre em planejamento territorial, especialista em governança, CEO da Tewá 225 e coordenadora executiva do estudo.
O lançamento deste estudo ocorre em um momento estratégico, com a renovação dos mandatos nas prefeituras e na legislação municipal em 2025. O cenário abre espaço para que os novos gestores enfrentem as desigualdades de gênero apontadas na pesquisa. Importante destacar que os dados sobre a composição das câmaras de vereadores não incluem a legislatura eleita em 2024, já que o levantamento foi realizado antes da posse dos novos parlamentares, refletindo o panorama do último ciclo legislativo.
Top 10 melhores e piores cidades para mulheres no Brasil
No ranking das piores cidades brasileiras, Paranaguá (PR), São Pedro da Aldeia (RJ) e Camaçari (BA) destacam-se como as cidades mais desafiadoras para as mulheres, com altas taxas de feminicídio, baixa representação política feminina e economias fortemente voltadas aos setores agropecuário e industrial, onde historicamente as oportunidades para mulheres são mais limitadas e as condições de trabalho são menos favoráveis.
Paranaguá, que recebe o título de “pior cidade” nesta edição 2024, tem uma economia dominada pelas atividades portuárias e agroindustriais. Nessas áreas, o mercado de trabalho é predominantemente masculino: as mulheres representam apenas 35,3% dos cargos formais e ainda recebem salários mais baixos que os homens.
Na lista das piores cidades integram 50% dos municípios das regiões Norte e Nordeste e 50% no eixo Sul-Sudeste. O top 10 piores cidades para mulheres no Brasil é composto por: 1º Paranaguá (PR); 2º São Pedro da Aldeia (RJ); 3º Camaçari (BA); 4º Macaé (RJ); 5º Parauapebas (PA); 6º Cabo de Santo Agostinho (PE); 7º Pindamonhangaba (SP); 8º Açailândia (MA); 9º Santana (AP); 10º Ponta Grossa (PR).
Já entre o top 10 melhores cidades para mulheres no Brasil, 80% encontram-se no eixo Sul-Sudeste e se destacam: 1º Araras (SP); 2º São Caetano do Sul (SP); 3º Brasília (DF); 4º Nova Serrana (MG); 5º Balneário Camboriú (SC); 6º Nova Friburgo (RJ); 7º Londrina (PR); 8º Birigui (SP); 9º Sobral (CE); 10º Brusque (SC).
O estudo também revela as cidades mais inclusivas para as mulheres, com destaque para municípios que investem em infraestrutura de segurança, educação e políticas públicas que promovem a participação feminina na política e no mercado de trabalho. Araras (SP), primeira colocada, possui Conselho Municipal de Direitos da Mulher.
Esses municípios, com economias diversificadas, estão concentrados principalmente nas regiões Sul e Sudeste, com exceções notáveis como Sobral (CE), e Brasília (DF).
As melhores e piores capitais para mulheres
O estudo também revela as melhores e piores capitais brasileiras para mulheres a partir da análise do Índice do ODS 5. Entre o top 10 piores se destacam: 1º Vitória (ES); 2º São Luís (MA); 3º Porto Velho (RO); 4º Natal (RN); 5º Maceió (AL); 6º Rio Branco (AC); 7º Palmas (TO), 8º Manaus (AM), 9º Belém (PA); 10º Rio de Janeiro (RJ).
A cidade de Vitória (ES), na região Sudeste do país, ocupa a última posição com 26,7 pontos. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2022, a capital capixaba apresentava a maior diferença salarial entre os gêneros do conjunto das capitais, com as mulheres recebendo, em média, 40% menos que os homens. As capitais das regiões Norte e Nordeste estão entre as que apresentam os piores índices para as mulheres no conjunto.
Dentre o índice, nas 10 melhores capitais estão: 1º Brasília (DF), 2º Salvador (BA), 3º Goiânia (GO), 4º São Paulo (SP), 5º Belo Horizonte (BH), 6º Fortaleza (CE), 7º Teresina (PI), 8º Macapá (AP), 9º Curitiba (PR) e 10º Recife (PE).
Brasília (DF) é a única capital com um indicador de igualdade de gênero classificado como médio, atingindo 50 pontos. Por outro lado, há outras grandes capitais como Salvador (41,7), São Paulo (40,5), Belo Horizonte (40,3) e Fortaleza (40,2) obtiveram níveis considerados “Baixo”, indicando que, embora possuam certa infraestrutura e recursos, ainda carecem de políticas eficazes na promoção da igualdade de gênero.
A maioria das capitais brasileiras (77%) está classificada no nível “Muito Baixo” quando se trata de igualdade de gênero. No ranking, todas as capitais analisadas apresentaram desempenho insatisfatório em indicadores importantes, como a desigualdade de gênero na política, no mercado de trabalho e na educação. Nenhuma delas alcançou o nível “alto” na medida que avalia a diferença entre homens e mulheres que não estudam nem trabalham, refletindo um padrão persistente de desigualdade em todo o país.
Outros dados do estudo
O relatório também faz uma análise regional que destaca a influência do território nas oportunidades para as mulheres. Dos cinco biomas analisados, vemos que apenas a Caatinga performa abaixo dos 80% considerados “muito baixo”, e Cerrado, Pampa e Mata Atlântica, abaixo dos 90%.
Na Amazônia, quase 97% dos municípios têm condições extremamente desfavoráveis para as mulheres, e apesar de sua importância geopolítica e ambiental, ainda não oferece as condições necessárias para a igualdade de gênero. Às vésperas da COP 30 em Belém, onde a Amazônia será o centro das atenções globais, é fundamental destacar que a região enfrenta não apenas desafios ambientais, mas também sociais e de gênero.
Além das condições gerais dos biomas, o estudo também revela como a estrutura econômica das regiões impacta diretamente as oportunidades para as mulheres. Nos municípios com economias dependentes da agropecuária, como Paranaguá (PR), Parauapebas (PA) e Açailândia (MA), as mulheres enfrentam desafios graves que contribuem para vulnerabilidade socioeconômica como: oportunidades de emprego limitadas, baixos salários, sem benefícios trabalhistas (licença maternidade ou seguro-desemprego)
Na região Norte, onde a agropecuária tem grande relevância, a participação feminina no setor formal é uma das mais baixas do país, abaixo de 15%. No contexto desses municípios, mulheres têm acesso reduzido a treinamento técnico e gerencial, o que limita suas chances de ascensão profissional, além da jornada dupla (trabalho no campo e tarefas domésticas), o que aumenta a desigualdade de gênero. Por outro lado, as regiões onde os setores de serviços e comércio são predominantes, como São Caetano do Sul (SP) e Brasília (DF), apresentam um cenário mais favorável para as mulheres. Nessas áreas, há uma maior oferta de emprego formal e mais oportunidades para o empreendedorismo feminino.
Embora municípios com maior PIB e PIB per capitatendem a ter pontuações ligeiramente mais altas no índice de igualdade de gênero, essa correlação é fraca. Uma economia robusta não garante melhores condições para a igualdade de gênero. A cidade de Araras (SP), por exemplo, mesmo com indicadores econômicos “Médios” ou “Baixos”, é o único município com paridade de gênero na Câmara dos Vereadores, com mais de 50% de vereadoras mulheres. Esse aspecto foi fundamental para sua posição no ranking. Se o índice levasse em conta apenas os indicadores mais relacionados à economia, o ranking praticamente não mudaria, mas Araras cairia para a 190ª posição.
Com relação a baixa representatividade feminina nos cargos políticos municípios como Paranaguá (PR) e São Pedro da Aldeia (RJ), a representatividade feminina no legislativo é inferior a 10%, as políticas públicas para as mulheres frequentemente são insuficientes ou inexistem, o que perpetua desigualdades em áreas essenciais, como segurança, saúde e trabalho. O estudo também revela a exclusão de jovens mulheres de oportunidades educacionais e profissionais. A disparidade entre jovens mulheres e homens que não estudam nem trabalham (NENT) é alarmante e 59,9% dos municípios foram classificados como “baixo” e 26,6% como “muito baixo” nesse indicador.
Essas desigualdades estruturais precisam ser abordadas em políticas públicas que considerem as intersecções entre gênero e raça, promovendo uma inclusão real e efetiva para todas as mulheres.
“Com apenas seis anos restantes para a conclusão da Agenda 2030, as nove metas do ODS 5 estão estagnadas ou retrocedem. Precisamos que novas métricas sejam desenvolvidas, como indicadores de vulnerabilidade climática, saúde da mulher, direitos reprodutivos e acesso à mobilidade urbana, entre outros. Esses indicadores precisamrefletir a complexidade das condições de vida das mulheres nas cidades brasileiras para que os gestores municipais construam políticas e orçamentos específicos”, finaliza Luciana Sonck
Para ler o estudo completo acesse aqui.
Sobre a Tewá 225
A Tewá 225 é negócio de impacto positivo que traz soluções para os desafios socioambientais das empresas, organizações e governos. Desde 2013, emprega uma metodologia própria de escuta e participação social na construção de estudos e soluções com viés de gênero, escuta territorial e gestão do conhecimento, tendo atuado com mais de 50 empresas e organizações, como Unesco, ONU Mulheres, Unicef, OIT, GIZ, WRI,Tereos, Fundação Tide Setubal e Instituto Votorantim, em mais de 50 cidades de todas as regiões do país. A consultoria é composta 100% por mulheres, certificada pela Rede Mulher Empreendedora, membro da rede Parceiros Pela Amazônia (PPA) e signatária do acordo “Race to zero” (compromissos de redução de emissões de carbono ou neutralização de suas emissões), pelo qual também integra a rede SME Climate Hub.