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Cuiabá, 17 de Junho de 2025.

Palavra de Profissional Quarta-feira, 04 de Junho de 2025, 20:35 - A | A

Quarta-feira, 04 de Junho de 2025, 20h:35 - A | A

Bullying

Quando a piada deixa de ser engraçada: o limite entre humor e violência psicológica

divulgação

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Nos últimos anos, a discussão sobre os limites do humor tem ganhado cada vez mais espaço nas redes sociais, nos palcos e nas rodas de conversa. Piadas antes vistas como inofensivas, hoje são questionadas por seu potencial de ferir, humilhar e perpetuar preconceitos. O que mudou? Será que estamos mais “sensíveis” ou, finalmente, mais conscientes?

A resposta parece estar na compreensão mais profunda dos efeitos emocionais e sociais causados por um certo tipo de humor: aquele que marginaliza. Quando uma piada é construída a partir da deficiência, da cor da pele, da orientação sexual, da religião ou de qualquer outra característica pessoal, o que está sendo celebrado não é o riso  mas o poder de diminuir o outro diante de uma plateia.

Esse tipo de humor, muitas vezes disfarçado de “liberdade de expressão”, encontra eco em programas de TV, redes sociais e até no ambiente escolar e de trabalho. Mas os impactos, segundo especialistas, vão muito além do constrangimento momentâneo. O riso que humilha pode deixar marcas profundas.

“Era só uma brincadeira”

Muitos adultos que sofreram bullying na infância relatam que as “brincadeiras” marcaram para sempre sua autoestima. O mesmo ocorre com crianças e adolescentes que convivem diariamente com piadas ofensivas em ambientes onde o respeito deveria ser prioridade.

O discurso de que “é só humor” se torna uma cortina de fumaça para justificar discursos preconceituosos. E o mais perigoso: muitos ainda riem. Não porque acham graça, mas para não se tornarem o próximo alvo.

No Brasil, episódios de humor ofensivo frequentemente reacendem debates sobre liberdade artística e os direitos humanos. Em um país marcado por desigualdades sociais e por altos índices de violência simbólica, as piadas que reforçam estereótipos atuam como combustível para uma cultura excludente.

Comentário da psicóloga Andrea Beltran

“O riso é uma das expressões mais poderosas da alma humana  pode curar, unir e aliviar. Mas quando o humor se transforma em ferramenta de exclusão, ele passa a ferir, e não a libertar. Piadas ofensivas, disfarçadas de entretenimento, muitas vezes mascaram formas sutis (e socialmente aceitas) de bullying.

Quando o alvo é constantemente ridicularizado por sua raça, deficiência, religião ou qualquer outra característica pessoal, isso pode gerar feridas emocionais profundas, tanto em adolescentes quanto em adultos. O ‘humor’ que humilha reforça estigmas, mina a autoestima e contribui para o isolamento, ansiedade e depressão.

Do ponto de vista da psicologia analítica, o inconsciente coletivo guarda arquétipos e símbolos que moldam a forma como enxergamos a nós mesmos e aos outros. Quando esses símbolos são usados para ridicularizar, eles perpetuam imagens negativas que se fixam nas estruturas psíquicas  principalmente das crianças e jovens em formação.

É essencial repensar o que chamamos de engraçado. O riso não precisa nascer da dor do outro. O respeito nunca deveria ser a piada. E talvez estejamos, como sociedade, apenas começando a entender a responsabilidade que vem com o microfone, o palco  e a palavra.”




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