Existem aberrações do comportamento humano difíceis de entender. Um desses casos está relatado no filme “Menina na caixa”, que conta a história real de uma jovem de 20 anos que, em 1977, pega uma carona na estrada para ir para a Califórnia e é sequestrada por um casal, vivendo sete anos num caixão de madeira.
Nesse período, é utilizada como escrava doméstica, fazendo os serviços da casa, além de ser estuprada e sodomizada. Graças ao arrependimento da esposa o sequestrador, ela consegue fugir e iniciar um julgamento que resultou na prisão perpetua de um homem que tinha relacionamento om a esposa e a jovem apenas para atender seus desejos de toda ordem.
O diretor Stephen Kemp obtém êxito ao mostrar a oposição entre a beleza da protagonista, interpretada com competência por Addison Timlin, antes da ser sequestrada, com os cabelos soltos ao vento na estrada, e a opressão que passa a viver, num processo de pressão mental que a leva inclusive a desperdiçar chances de fugir numa ambígua relação de medo/paixão.
O filme é uma rica oportunidade também para psicólogos refletirem sobre as complexas relações entre pessoas que são sequestradas e seus captores, a chamada Síndrome de Estocolmo, pois parecem existir fatores que geram uma dependência afetiva de quem tem a liberdade reprimida e passa a ter apenas o sequestrador como referência.
Filme cru e cruel, “Menina na caixa” traz importantes elementos para entender como vidas podem ser interrompidas por fatos fortuitos e como a mente humana é ambígua. Por um lado, gera famílias de comportamento violento como a que raptou; por outro, permite a sobrevivência psicológica mesmo nas situações mais críticas e adversas possíveis de imaginar.
Sobre o comentarista de cinema:
Oscar D’Ambrosio é jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.