O lançamento de “Quando uma mulher descobre o mundo”, livro de Michelli Lopes, mato-grossense que desde os 3 anos de idade é cega, promete ser um evento carregado de emoção. No dia 26 de junho, 19h30, naCasa Barão, sede da Academia Mato-Grossense de Letras, os convidados estarão diante de uma jornada de resistência e superação.
Na obra “Quando uma mulher descobre o mundo”, a escritora Michelli Lopes, uma mulher negra, cega, pobre, mato-grossense, da cidade de Cáceres, que foi alfabetizada pela oralidade, narra suas experiências pessoais e dá o tom maior para sua poesia. Fala, dentre outras vivências, sobreo abandono paterno e da luta de sua mãe Nilza Lopes uma guerreira que criou sozinha 3 filhos, relata seu caminhar para a alfabetização, com poucas incursões, não bem sucedidas, pelo Braile, ainda quando nem mesmo os professores dominavam a técnica. O obra livro que tem a chancela da Mágico de Oz Editora, de Portugal/Brasil será lançada no dia 26 de junho, 19h30 na Casa Barão, sede da Academia Mato-Grossense de Letras.
A autora, traz através de relatos fortes, ora pela poesia que nem sempre abranda um cotidiano carregado de superações, preconceitos e exclusões; ora pelo percurso que percorreu para ser ouvida e lida, que foi longo, pois foram muitos anos de isolamento social, desde que ficou cega, aos 3 anos de idade. Ela acredita, entretanto, que pode ir mais além, tendo um sonho ainda maior, o de cursar a Faculdade de Serviço Social. O livro, não só por uma evidência da influência de sua escrita, dentro da chamada literatura decolonial, deu voz para Michelli, que viveu sua vida até 28 anos, fora suas passagens pela Associação de Pais e Amigos de Excepcionais-APAE, de Cáceres, em solidão, enclausurada em casa, entre quatro paredes, sem muitas perspectivas de uma vida fora do ambiente familiar, temendo sempre ser marginalizada, subalternizada e distante da chamada justiça social.
Na parte 3 da obra, a lira de Michelli grita. No texto intitulado “Divisor de águas, desaguar? A autora diz que houve um dia, em que ela parou de chorar. Depois um dia que parou de concordar! E, então, foi quando percebeu que assustou as pessoas por manifestar as suas vontades, inclusive de vestir-se com roupas de baixo, e além desta dignidade, queria mais, a exemplo de estudar, ouvir música e escrever.
Jornalistas sensíveis
A apresentação e o prefácio da obra de Michelli Lopes foram escritos, respectivamente, com a sensibilidade das jornalistas e escritoras, Sueli Batista e Mirella Duarte. Sueli que também empreendedora social, produtora cultural e empresária, viabilizou a obra e a noite de lançamento, através de suas redes de relacionamentos. Ela deixou registrado que a inspiração de Michelli Lopes trafegou pela via da oralidade e foi convertida em texto, com precisão, por uma professora da APAE, de Cáceres. “Isso mostra a importância dos educadores na construção da cidadania”. Numa forma de homenagem para a professora Maria José, uma das páginas do caderno com a poesia “a força do querer” que foi datada em 4 de abril de 2017, quando ela assinava Michelli Roberta, foi reproduzida no final da obra.
A homenagem para Maria José, que elaborou uma primeira versão do livro, que foi escrita a tinta, em um caderno, no qual Michelli ditava e a professora escreviamostra o quanto devemos sempre lembrar daqueles que ajudam no percurso. O caderno foi encapado e entregue para a autora, que agora está debutando como escritora, em “Quando uma mulher descobre o mundo”. Sueli diz que Michelli é a personificação da resiliência. Quando afirma que “quando se tem muita vontade de transformar os sonhos em realidade, realizamos”, ela nos lembra que a luz mais poderosa não é aquela que vemos, mas a que carregamos dentro de nós. Essa ideia, destaca a jornalista, se traduz lindamente em seus versos: “navego no escuro, mas meu coração é farol, as palavras são as velas que me guiarão ao sol.”
Para Sueli, que sempre foi muito sensível às causas sociais, inclusive em conexão com a arte, a poesia a nova autora, é um testemunho de que, mesmo nas noites mais sombrias, há sempre um caminho iluminado pela determinação. Falando num tom da Psicologia Positiva, Sueli revelou que a obra de Michelli nos convida para a descoberta de nós mesmos e que seus escritos ressoaram profundamente nela, e ela espera que também faça sentido para os leitores. Isso porque, diz ela, que no livro é mostrado que a verdadeira visão não está nos olhos, mas em um olhar interno guiado pela coragem e pela esperança.
Descobertas e inspirações
A escrita de Michelli é fruto de seus vários momentos de descobertas e inspirações, seja dentro de suas vivências, pelo que lia e ouvia através da música. Ela cita, dentre suas referências, duas negras que saíram do caminho comum, a escritora mineira, Conceição Evaristo e ElzaSoares, sendo que a cantora inspirou até mesmo o título do seu livro, com a composição “A mulher do fim do mundo”, de Romulo Froes e Alice Coutinho, que Elzainterpretou tocando a autora pelas vias do seu coração. A composição depois que ouviu pela primeira vez, ela guardou a referência, e diz que após seis meses, veio a sua mente para dar nome edição: “Quando uma mulher descobre o mundo”.
Mirella Duarte, vencedora do Prêmio Literário ExpoFavela 2023, no prefácio do livro, o considerou como “uma obra prima que desnuda dores e amores, nem sempre reveladas tão honestamente pela humanidade, de forma fácil e breve”. Ela disse que cada poema de Michelli é como arrancar um curativo recém-feito, deixando as feridas arderem sem medo e expondo-o ao tempo. Para ela a coleção de poemas mostra a dor da solidão de uma escritora descobre máscaras com direito a frustrações, mágoas, reencontros e descobertas. Mirella foi além, comparando o livro como um portal de autoconhecimento para um mundo. Classificou a obra com indicativo para pessoas maduras e dispostas a observar as fragilidades com o ponto de partida e para recomeços.
O percurso da realização
Pode se dizer que a concretização do livro de Michelli, seja fruto da sensibilidade de quem empreende socialmente. O projeto chegou às mãos de Sueli Batista através da professora Ayo Adeola, que a jornalista a conheceu, quando presidiu a Academia Mato-Grossense de Letras. A educadora lembra como foi a história. Ela estava em desespero, porque haviam lhe prometido publicar o livro, e ela encheu Micheli de esperanças e isso não se realizou. Ao relatar o fato, nem ousou pedir patrocínio, mas sim justificar porque havia a convidado para apresentação da obra. Porém, com uma grande sensibilidade, ela disse que iria publicar o livro, em 2025, buscando alternativas em janeiro. E assim o fez. Primeiro reuniu-se online, de Cuiabá, para além mar, com Izadora Valadares, CEO da Mágico de Oz Editora, em Portugal, empresa com quem Sueli já tem relacionamento por outros trabalhos. Ouvindo o sim, e boas condições para tornar o sonho uma realidade, tocou o projeto adiante.
Na mesma semana Sueli conseguiu sensibilizar dois dirigentes de cooperativas de crédito, a presidente da Sicoob União MS/MT, Aifa Naomi e o gerente da Sicredi Outro Verde, da Carmino de Campos, de Cuiabá para a impressão da obra. Sua sócia Mariza Bazo, da Studio Press Comunicação abraçou a iniciativa, garantindo estarjunto, como parceira, através de apoio do Portal Rosa Choque e do trabalho de assessoria de designer e imprensa, tudo visando minimizar custos. Uma outra parceira que trouxe junto, foi da Associação de Mulheres de Negócios e Profissionais, BPW Cuiabá, sendo imediatamente acolhida a ideia por parte da presidente Rubia Ranzani, que inclusive direcionará sua reunião mensal para o local de lançamento e ajudará a sensibilizar para compras no lançamento. Acionando a rede BPW Cuiabá, Sueli contou com outros apoios. Michelli ganhou sessão de fotos, do Espaço Formaturas, oferecido pela diretora Janeiva Rondon e com a empreendedora Helenisseia Wanubia, coordenadora do Meio Ambiente da organização, que em articulação com outras empreendedoras da rede estará cuidando do look da escritora, incluindo o que Ayo chamou de banho de loja. Inclusive Wanubia conseguiu através de sua mãe Heleni, que a cliente dela, a Diela Tranças e Cultura Afro Salão de Beleza, seja a responsável pelo cabelo da escritora na noite do lançamento. A Marggoh Acessórios ofereceu um conjunto de colar e brinco para que Michelli seja também uma estrela radiante na noite de sua realização.
A obra e a história de Michelli está sensibilizando, destacou Ayo. Vale destacar que foi ela quem produziu as ilustrações do livro, que conforme recorda Michelli, foi lhe ditado o que ela queria e pela descrição Ayo formava as imagens. Todos os cuidados, com sensibilidade foram tomados, para que o livro fosse ilustrado como Michelli sonhou.
Camila Valentim/ Montagem portal rosa choque

Janeiva Rondon, Sueli Batista, Michelli Lopes, Ayo Adeola e Mariza BazoJaneiva Rondon, Sueli Batista, Michelli Lopes, Ayo Adeola e Mariza Bazo
Na noite de lançamento, a obra com 112 páginas, será vendida e todo recurso das vendas será da autora, que além do sonho concretizado, terá também um motivo a mais de realização, um produto que pode ajudá-la a viver com mais dignidade, no percurso de seu caminho, não raramente cheio de obstáculos a superar. O livro custará R$ 50,00 e estará disponível, em breve, nas plataformasglobais, a exemplo da Amazon e na Livraria da Mágico de Oz Editora, em Leria, Portugal.
Atrações culturais
A noite de lançamento promete ser carregada de emoção, a iniciar pela mestre de cerimônias, Mariana Ferreira, atriz, contadora de histórias e professora que também é cega total. Ela estará reafirmando a importância da valorização da escrita feminina, periférica, étnica, inclusiva. O Grupo Ciranda dará os acordes para uma noite ainda mais poética e inspiradora. E para que todos tenham ainda mais vontade de conhecer a obra de Michelli Lopes, a diretorado Teatro Zulmira Canavarros, Dani Paula fará a leitura dramática do poema “Amores Estranhos”, de Michelli Lopes, sendo que na sequência a cantora Deize Águena interpretará, com o coro das associadas da BPW Cuiabá, um trecho da mesma composição. Finalizando o evento, o coletivo teatral Pajuba Elekô que tem no elenco as atrizes: Lucia Lopes, Lucimar Pinho eIris Roth, encenará a leitura dramática do texto, “Quando, uma mulher descobre o mundo”.
SERVIÇO
Lançamento do livro “Quando uma mulher descobre o mundo”- Jornada de resistência e superação de uma escritora cega
Dia/hora: 26 de junho – 19h30
Local: Casa Barão, sede da Academia Mato-Grossense de Letras
Rua Barão de Melgaço, 3684 – Centro Norte – Cuiabá/MT
Valor do livro: R$ 50,00
Contatos com a autora:
Ayo Adeola (65) 99667-4769 e Sueli Batista (65) 99981.3389