Para muitas pessoas autistas, o mundo pode ser uma fonte constante de sobrecarga. Sons altos, luzes fortes, cheiros intensos, excesso de pessoas e até mesmo o toque de certos tecidos podem causar desconforto extremo. O que para a maioria das pessoas passa despercebido, para um autista pode ser avassalador, tornando tarefas simples do dia a dia um grande desafio.
A hipersensibilidade sensorial se manifesta de diferentes formas. Algumas pessoas têm extrema sensibilidade a ruídos e locais com muitas outras pessoas, sentindo desconforto intenso em locais movimentados, como shoppings e festas. Outras podem ter dificuldades com o toque de determinadas texturas, como etiquetas de roupas ou tecidos ásperos. O olfato muito aguçado também é uma característica comum, fazendo com que determinados cheiros sejam insuportáveis, mesmo quando outras pessoas não os notam.
Ana Clara, jovem autista de 21 anos, sempre percebeu o mundo de forma mais intensa do que aqueles ao seu redor. “Sinto cheiros que ninguém mais sente. Às vezes, uma fragrância muito forte ou o cheiro de algumas comida me deixam com dor de cabeça e até enjoada”, conta. Essa percepção sensorial elevada pode causar reações diversas, como irritação, ansiedade e, em casos extremos, crises de sobrecarga, conhecidas como meltdowns. Durante essas crises, a pessoa pode sentir necessidade de se isolar ou até mesmo se desligar completamente do ambiente ao redor.
Para lidar com essa sensibilidade, muitas pessoas autistas desenvolvem estratégias próprias. No caso da hipersensibilidade tátil, optar por roupas sem etiquetas e com tecidos mais confortáveis pode fazer toda a diferença no bem-estar.
No caso de Clara, os óleos essenciais se tornaram aliados na regulação sensorial. “Quando um cheiro me incomoda , uso óleos essenciais para equilibrar. O de lavanda me acalma, enquanto o de menta ajuda quando sinto enjoo”, explica. Pequenas adaptações como essa podem transformar a forma como um autista lida com estímulos externos e tornar o dia a dia mais confortável.
Além das estratégias individuais, a sociedade também pode contribuir para um ambiente mais acessível. Algumas lojas e supermercados já adotaram “horários sensoriais”, reduzindo luzes e sons para tornar o ambiente mais confortável para pessoas com hipersensibilidade. A criação de espaços mais tranquilos, a permissão para o uso de fones de ouvido em locais públicos e, principalmente, o respeito aos limites individuais são passos fundamentais para tornar o mundo menos opressor para quem percebe a realidade de forma mais intensa.
Apesar dos desafios, compreender e respeitar a sensibilidade sensorial no autismo pode fazer toda a diferença na qualidade de vida dessas pessoas. Com mais informação e empatia, é possível criar ambientes mais inclusivos, onde autistas possam viver com mais conforto e bem-estar, sem precisar se moldar a um mundo que, muitas vezes, parece não ter sido feito para eles.