Acordar com cólicas intensas, dores de cabeça, ou sensação de fadiga, e ainda assim enfrentar reuniões, prazos e uma longa jornada de trabalho é uma realidade para milhões de mulheres. Apesar de ser uma experiência natural e recorrente, o ciclo menstrual ainda é um tema tabu no ambiente corporativo, resultando em desafios tanto físicos quanto emocionais para muitas trabalhadoras.
Os números por trás do ciclo
Estudos apontam que cerca de 80% das mulheres em idade reprodutiva experimentam sintomas da tensão pré-menstrual (TPM), como irritabilidade, cansaço e dores musculares. Dessas, pelo menos 30% enfrentam sintomas severos que impactam diretamente seu desempenho no trabalho.
Um levantamento do British Medical Journal revelou que mulheres com ciclos menstruais dolorosos perdem, em média, 23 dias de produtividade ao ano — não porque faltam ao trabalho, mas devido à dificuldade de manter o rendimento durante os dias de dor.
Quando o tabu prejudica a saúde
Apesar dos dados alarmantes, muitas mulheres evitam falar sobre o impacto da menstruação no trabalho por medo de serem vistas como menos competentes ou profissionais. “Eu já precisei ir ao banheiro várias vezes por causa do fluxo intenso, e o olhar de reprovação dos colegas era inevitável”, conta Juliana, 29 anos, que trabalha em uma empresa de tecnologia.
Além disso, o estigma sobre a menstruação dificulta a implementação de políticas de apoio às mulheres. Apenas algumas empresas no mundo oferecem folga menstrual — um benefício que, segundo especialistas, poderia reduzir o absenteísmo e aumentar o bem-estar.
Empresas que lideram mudanças
Embora ainda seja uma prática rara, algumas empresas vêm adotando políticas que reconhecem o impacto do ciclo menstrual na rotina de trabalho. Na Índia e no Japão, algumas companhias oferecem até dois dias de licença por mês para funcionárias que apresentam sintomas intensos.
No Brasil, iniciativas como ambientes mais confortáveis, horários flexíveis e a inclusão de absorventes em banheiros corporativos são exemplos de pequenas ações que podem fazer a diferença.
Como lidar com o ciclo no trabalho?
Para mulheres que não contam com políticas específicas, algumas estratégias podem ajudar:
•Planejamento: Conheça seu ciclo e, quando possível, evite agendar tarefas mais complexas nos dias de maior desconforto.
•Autocuidado: Manter uma alimentação equilibrada, hidratar-se e praticar exercícios físicos regulares pode minimizar sintomas da TPM.
•Conversa aberta: Se sentir confiança, dialogue com colegas ou gestores sobre como adaptar a rotina nesses dias.
Rumo a uma nova cultura corporativa
Trazer o tema menstruação para a pauta empresarial não significa criar privilégios, mas sim promover um ambiente de trabalho mais saudável e igualitário. “Reconhecer a menstruação como algo que impacta o dia a dia das mulheres é uma questão de respeito e humanidade”, afirma a socióloga e pesquisadora de gênero Mariana Vasconcelos.
Mudar essa realidade requer coragem tanto por parte das mulheres quanto das empresas, mas as transformações já estão acontecendo. O futuro do trabalho é inclusivo, e reconhecer as necessidades do corpo feminino é parte essencial dessa evolução.