No mercado de publicidade, as mulheres representam 57% dos profissionais. Embora este número pareça positivo, apenas 15% delas atuam como CEO, segundo a pesquisa Publicidade Inclusiva: Censo de Diversidade nas Agências Brasileiras. Thabata Mondoni tem 36 anos, é jornalista, assessora de imprensa e faz parte dessa estatística. Foi em busca de liberdade e autonomia para criar que ela abriu a própria agência, há 8 anos. Hoje, ela atua em nome de si própria, de outras mulheres e das colegas de profissão que lutam para conquistar o próprio espaço para mostrar que é possível chegar mais longe.
“Nós, mulheres, precisamos constantemente provar o nosso valor. Tenho muitas amigas empreendedoras e líderes em empresas e percebo que precisamos fazer muito mais, saber muito mais, estudar muito mais, trabalhar muito mais para sermos dignas de estar em uma posição ‘igualitária’ de liderança. Como profissional de comunicação, acredito que temos, sim, conquistado nosso espaço, mas não creio que devemos isso a uma mudança de visão no meio corporativo, pois, sinceramente, não acho que vivemos em igualdade. O que está acontecendo é que, a todo custo, estamos tomando o nosso lugar, ‘custe o que custar’. Será que isso é igualdade? O quanto isso tem nos custado é igual ao que custa para os homens? Eu creio que não”, opina ela, que é fundadora da Mondoni Press, uma agência boutique de comunicação.
“Somos especializados em PR para empresas de tecnologia e inovação, mas atendemos também clientes voltados para bem-estar e outras áreas. Nosso foco é oferecer uma comunicação global para o cliente, de ponta a ponta. Temos bastante expertise na área e o time é praticamente todo composto por mulheres, o que me faz perceber algumas particularidades no mercado. E se elas acontecem conosco, não tenho nem ideia de como deve ser o esforço de pessoas negras e LGBTQIAPN+ para chegar onde desejam”, comenta.
Também de acordo com os dados da pesquisa Publicidade Inclusiva: Censo de Diversidade nas Agências Brasileiras, no mercado de publicidade, apenas 21% das mulheres são negras. Nenhuma delas é CEO. Além disso, do total, entre homens e mulheres, somente 24% fazem parte da comunidade LGBTQIAPN+ e 1,6% são pessoas com deficiência. “Creio que essa luta está apenas começando. Talvez o problema não seja estar em alguma posição, mas sim chegar até ela. Quando o esforço para conquistar esse espaço é diferente, não creio que exista igualdade”, aponta Thabata.
Para ela, ser mulher em um ambiente dominado por homens também traz vantagens e diferenciais, algo que as companhias deveriam considerar. Isso proporciona aos clientes novas abordagens e inovação e reflete melhor a variedade de audiência. “Na escrita e no jornalismo, as mulheres sabem muito bem usar a sensibilidade para trazer mais profundidade à notícia. E, não só falando de mulheres, acredito que um ambiente diverso de trabalho é mais estratégico, pois traz perspectivas diferentes para a mesa, enriquecendo o processo criativo e de desenvolvimento”.
Thabata começou a carreira muito jovem e, hoje, com 19 anos de experiência, já acumula passagens por frentes diversas, como redações de jornais, revistas, emissora de televisão, comunicação interna, multimídias e assessoria de imprensa. “Minha intenção durante esses anos foi me capacitar para me tornar uma jornalista dinâmica que pudesse transitar entre temas e plataformas diferentes, abarcando o máximo de experiências possíveis. Cheguei a trabalhar em três lugares diferentes quando ainda não existia trabalho remoto”, comenta ela, que atuou ainda em uma editora de revistas de pesca, aventura e meio ambiente como repórter.
Ao longo das experiências de trabalho, Thabata vivenciou de perto o surgimento dos blogs especializados e o fortalecimento do conteúdo para web, redes sociais e multicanais como forma de atingir relevância de marca. “Percebi uma forte mudança no modo de fazer jornalismo. Uma das empresas do grupo em que eu trabalhava tinha passado por crises de imagem, então fui estudar como a estratégia usada pelos blogs poderia ajudar a reduzir os impactos das notícias negativas. O departamento de imprensa, junto com o de marketing, criou diferentes blogs sobre setores específicos que abrangiam temas relacionados a essa empresa. Os blogs eram institucionais e continham o nome da marca, mas traziam conteúdos relevantes e autênticos da área. Paralelo a isso, trabalhamos fortemente estratégias de PR. Em poucos meses, as notícias negativas começaram a sumir das primeiras páginas do Google e dar espaço para conteúdos positivos. Então, decidi me especializar”, comenta a especialista, que chegou a aplicar esse conhecimento também na TV Cultura, quando integrou o time de multimídia da emissora. Depois, fez parte também do time de jornalismo do canal, no qual trabalhou como redatora, repórter, vídeo-repórter e editora. Considerou a experiência uma grande escola.
Mesmo assim, Thabata percebeu que ainda não estava totalmente realizada no âmbito profissional, pois queria alcançar mais liberdade e autonomia de criação. “Já sabia que meus próximos passos seriam por um caminho independente. Saí da TV Cultura e comecei a trabalhar como freelancer em Assessoria de Imprensa. Estava prestando serviço para uma agência, mas depois comecei a receber propostas de executivos para ajudá-los a se posicionarem melhor. Foi então que a Mondoni Press surgiu e as pessoas começaram a me procurar. Quando vi, já era hora de investir em um time maior para me ajudar”, conta ela, que decidiu seguir a carreira de jornalismo por conta de experiências positivas na escola.
“Tive alguns professores que foram grandes incentivadores da escrita na minha vida, ambos de literatura. Uma vez o professor Tony nos pediu para usar um diário e registrar pensamentos e vivências de forma livre, o que me ajudou muito a desenvolver um pensamento mais analítico e profundo. No ensino médio, a professora Josi dava aulas inspiradoras e fazia a escrita ser algo bastante interessante. Um dia, ela me pediu para eu ler um texto que tinha escrito e foi quando entendi que a escrita era para mim. Sempre gostei de falar muito, conversar com as pessoas, participar de atividades culturais da escola, como as de dança e teatro. Então, no último ano do colégio, fazendo teste vocacionais, tudo me levou ao jornalismo. Também me vi muito cedo com grandes responsabilidades. No entanto, isso me fez ser uma pessoa que não tem muito medo de arriscar e que não se surpreende com tudo. A vida me ensinou a ser uma pessoa muito forte, resiliente e pé no chão. Tenho muita fibra. E é bacana que me sinto todos os dias no dever de representar minhas colegas mulheres que estão lutando para conquistarem seu espaço. Quero que todas saibam que não precisam de uma figura masculina para chegarem aonde querem. Elas se bastam”, finaliza.