Durante dois dias, jovens repórteres da floresta debateram sobre desinformação e fake news, além de todos os malefícios que esses fenômenos contemporâneos trazem para a sociedade. A temática ocorreu dentro do projeto “Nossas Vozes”, na comunidade indígena Três Unidos, no último fim de semana de abril. A iniciativa foi realizada pelo Instituto Vero, em parceria com a Embaixada e Consulados dos Estados Unidos e a Fundação Amazônia Sustentável (FAS).
Os repórteres interagiram com profissionais de comunicação e influenciadores sobre temas como: “O que é desinformação e como consumir informação de forma crítica e consciente”; “Táticas de desinformação e como identificá-las”; e “Rotinas de produção e exemplos de influenciadores da região amazônica”, entre outras atividades e exercícios práticos sobre cada tema.
Na temática sobre como identificar desinformação, os alunos fizeram exercícios utilizando exemplos de notícias falsas que foram disseminadas no país. Eles realizaram análises dos conteúdos e construíram contra-narrativas que poderiam ser utilizadas para combater as informações falsas.
De acordo com Valdemara Carvalho de Moraes, da comunidade Boa Esperança, no município de Manicoré, a oficina foi importante para entender como identificar notícias falsas e levar para seus territórios os ensinamentos aprendidos. “Não temos como saber o que é verdade e mentira, porque os boatos são jogados nas redes sociais de uma forma tão ‘verdadeira’ que a gente se pergunta: ‘será que isso é real?’ ou às vezes a gente nem se questiona. A partir desse tema, estamos aprendendo como lidar com a situação, analisar e ter sabedoria. O assunto está sendo entregue com muita clareza e estamos precisando disso“, afirma.
Ao todo, 25 repórteres de sete municípios do Amazonas participaram das oficinas. Eles são de Iranduba, Manaus, Novo Aripuanã, Manicoré, Carauari, Uarini e Itapiranga. O projeto “Repórteres da Floresta” é realizado pela FAS desde 2014 e, somente em 2023, concluiu a formação de 130 jovens ribeirinhos de 10 comunidades localizadas em Reservas de Desenvolvimento Sustentável (RDS) no estado do Amazonas. O projeto da FAS tem apoio do Movimento Bem Maior e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
O coordenador de Núcleos de Inovação e Educação para o Desenvolvimento Sustentável (Nieds), Rafael Sales, ressalta a importância da discussão do tema com jovens que vivem em comunidades do Amazonas e que têm acesso limitado à internet. “A ideia é que os jovens levem para suas comunidades essas possibilidades de combater a desinformação dentro dos seus territórios. Entendemos que em diferentes localidades a informação demora a chegar, então é necessário que eles tenham o entendimento para identificar notícias falsas, e o projeto traz técnicas para que a desinformação seja combatida”, explica.
Na mesma linha, a head de operações do Instituto Vero, Camila Tsuzuki, explica que a instituição atua para levar educação midiática para os jovens. “Estamos muito felizes em estar aqui no Três Unidos em que a gente pôde reunir jovens de vários municípios para falar sobre o combate à desinformação, a importância do uso crítico e consciente das mídias e, sobretudo, de levar as narrativas deles para as mídias e que eles possam contar suas próprias histórias”, disse.
“Estamos muito felizes em apoiar o projeto Nossas Vozes e comemorar o bicentenário das relações entre o Brasil e os Estados Unidos, dando mais ferramentas, mais apoio para os jovens brasileiros poderem expressar suas aspirações, desafios e levantar a voz da sua própria comunidade,” destacou Luke Ortega, porta-voz da Embaixada e Consulados dos Estados Unidos no Brasil.
Entre as conversas com influenciadores, os jovens interagiram com duas mulheres que atuam com conteúdos de negritude e ativismo indígena, Bruna Dias e Tainara Kambeba, respectivamente. A carioca Bruna Dias tem o canal “Dias de Cachos”, em que aborda sobre transição capilar, empoderamento feminino, negritude e comunicação. Na conversa, de forma remota, ela contou sua trajetória e deu dicas sobre produção de conteúdos para a internet.
Já a influenciadora Tainara Kambeba, da comunidade indígena Três Unidos, os repórteres tiveram a oportunidade de bater um papo sobre a importância dos povos ribeirinhos terem empoderamento sobre seus territórios e usarem as mídias sociais para se posicionarem, além de reivindicar seus direitos e não deixar que outros sejam porta-vozes das suas histórias e seus territórios.
O jovem Darlisson Ramos, da comunidade Tumbira, no município de Iranduba, comentou sobre os novos aprendizados. “Acredito que vai agregar muito tanto na minha vida pessoal quanto profissional, pois conseguimos captar a mensagem que foi repassada. Quero agradecer todos os colaboradores, tanto a embaixada quanto a FAS e o Instituto Vero“, disse.
Sobre a FAS
A Fundação Amazônia Sustentável (FAS) é uma organização da sociedade civil sem fins lucrativos que atua pelo desenvolvimento sustentável da Amazônia. Sua missão é contribuir para a conservação do bioma, para a melhoria da qualidade de vida das populações da Amazônia e valorização da floresta em pé e de sua biodiversidade. Com 16 anos de atuação, a instituição tem números de destaque, como o aumento de 202% na renda média de milhares famílias beneficiadas e a queda de 40% no desmatamento em áreas atendidas.
Sobre o Instituto Vero
O Instituto Vero é formado por pesquisadores e comunicadores digitais comprometidos com a proteção da democracia, a promoção do debate público online e a construção de soluções para o combate à desinformação. A equipe do instituto produz pesquisas, campanhas e projetos que inspiram transformação social por meio do uso crítico de tecnologias digitais. Suas áreas de atuação incluem regulação de inteligência artificial, privacidade e proteção de dados, regulação de plataformas, media literacy e combate à desinformação.