O pós-parto é uma fase intensa, muitas vezes marcada por um turbilhão de emoções, privação de sono, dúvidas, cobranças e uma tentativa constante de equilibrar a nova rotina com o autocuidado. Estima-se que uma em cada quatro mulheres possa desenvolver algum grau de depressão pós-parto, segundo a Organização Mundial da Saúde. Por isso que as práticas integrativas, como a aromaterapia, vêm ganhando espaço como aliadas complementares no cuidado com a saúde mental da puérpera.
"A aromaterapia atua de forma sutil, mas poderosa, no sistema límbico, que é a região do cérebro responsável pelas emoções. Determinados óleos essenciais, quando inalados ou usados topicamente com orientação adequada, ajudam a modular o humor, reduzir a ansiedade, melhorar o sono e trazer sensação de acolhimento", explica a aromaterapeuta, perfumista botânica e naturóloga Daiana Petry, que também é especialista em neurociência aplicada.
Entre os óleos mais recomendados para o período do puerpério estão:
- Lavanda: calmante, ansiolítica e ótima para auxiliar no sono.
Em um ensaio clínico com 140 mulheres internadas na unidade obstétrica e ginecológica, a inalação do óleo essencial de lavanda a cada 8 horas, durante 4 semanas, demonstrou ser capaz de reduzir o estresse, a ansiedade e a depressão pós parto.
- Gerânio: é indicado para lidar com a oscilação de humor, reduz a tensão, irritabilidade, impaciência, frustração e sentimento de culpa.
• Sálvia Esclareia: promove clareza mental, reduz sentimento de culpa, reduz sintomas da TPM e menopausa.
• Rosa: possui ação antidepressiva, melhora a qualidade do sono, promove acolhimento emocional e alivia dores emocionais.
- Bergamota: energizante e antidepressiva natural, excelente para combater a apatia e o desânimo.
O óleo essencial de bergamota pode melhorar o estado de humor e auxiliar na depressão pós-parto, é o que avaliou uma pesquisa¹ clínica experimental com 60 mulheres em Taiwan.
Rica em componentes como limoneno, linalol e acetato de linalila, a Bergamota é conhecida na aromaterapia por suas propriedades ansiolíticas e antidepressivas, que promovem equilíbrio emocional e otimismo.
As participantes foram divididas de maneira aleatória entre o grupo experimental, que foi exposto durante 4 semanas à inalação diária do OE de Bergamota por 15 minutos através do difusor ambiental, e entre o grupo controle que foi exposto somente à difusão ambiental de água. Foram utilizados questionários que avaliaram os níveis de depressão antes e depois das intervenções.
Como resultados, os pesquisadores identificaram que os níveis de humor depressivo foram significativamente mais baixos no grupo que foi exposto à inalação do OE, sugerindo que o estímulo olfativo diário de Bergamota pode contribuir na saúde mental e no alívio das condições de depressão pós-parto em mulheres.
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- Sálvia Esclareia: conhecida como a "amiga das mulheres", pode ajudar na regulação hormonal;
- Rosa: promove acolhimento emocional e favorece a autocompaixão.
"Além dos benefícios fisiológicos, a aromaterapia tem um papel simbólico muito forte. Criar um ritual diário com aromas ajuda a mãe a se reconectar com sua individualidade e a construir pausas necessárias, ainda que curtas, em meio às exigências da maternidade", ressalta Daiana.
A culpa materna e a sensação de insuficiência são queixas frequentes entre as mulheres, sobretudo quando precisam retomar a rotina profissional ou cuidar de outros filhos. “Respirar profundamente ao inalar um óleo essencial calmante é um gesto simples que traz o corpo de volta ao presente. Isso é importante quando a mente está sobrecarregada com tantas tarefas e expectativas", complementa.
Embora não substitua acompanhamento médico ou psicológico, a aromaterapia pode ser integrada à rotina de forma segura com orientação profissional. “É importante sempre consultar um aromaterapeuta qualificado, principalmente no período de amamentação, pois nem todos os óleos são indicados para lactantes”, alerta a especialista.
Com cada vez mais estudos sobre os efeitos dos aromas no cérebro, cresce o interesse por soluções naturais que cuidem não apenas do corpo, mas também da alma. No puerpério, onde o invisível pesa, sentir-se amparada por práticas simples pode fazer toda a diferença.