“não se culpe, mãe poeta
por estar em falta com seus cadernos
mas preocupar-se em registrar
cada primeira coisa dos seus filhos
pois não há livro mais importante do que a infância
quando se acolhe cada gesto
com a receptividade de uma folha em branco”
- Trecho do poema “produti.vaidade” (pág. 61)
“É um livro construído pelo afeto, que revela o esplendor e a grandiosidade de um cotidiano muitas vezes maçante ou até mesmo doloroso. Os poemas de Bruna relembram que a doçura também pode ser um modo de resistência, e retratam uma experiência tão singular quanto coletiva”
- Juliana Goldfarb, no prefácio
O livro “poemas para Liz”, da escritora e jornalista paulistana Bruna Escaleira (@bru_esc), explora, de maneira poética, a maternidade. Da gravidez ao puerpério, a obra aborda com leveza e sensibilidade o processo da descoberta de si como mãe, sem romantizar ou demonizar a função e conta com o posfácio assinado pela professora, mãe e doutora em literatura Juliana Goldfarb. O evento de lançamento está marcado para dia 6 de abril, às 15h, no Catavento Café (Rua Antônio Mariani, 157, Butantã). Dentro do café, existe a Odisseia Livraria de Bolso, em que haverá um espaço kids com brincadeiras artísticas gratuitas para as crianças durante o evento.
Publicada pela editora artesanal Arpillera (@editoraarpillera, 88 pág.), a poesia da autora ganha corpo em exemplares costurados um a um. Essa proposta manual, junto ao nome da editora, que homenageia o movimento de resistência das bordadeiras chilenas na época da ditadura, foi o que levou a autora a tentar a chamada para publicação desta pequena casa editorial. Para ela, esse modo de fazer as coisas combina perfeitamente com a forma e o momento em que seu livro foi escrito: “no tempo das coisas, no tempo da vida”. “Foi amor à primeira vista”, resume.
Dividido em três partes, “poemas para Liz” organiza os lampejos e epifanias em frases curtas proporcionadas pela embriaguez hormonal da gravidez e do puerpério. As seções “Surpresa”, “Portal” e “Mundo novo”, tratam, respectivamente, sobre a gestação, o parto e o puerpério. O livro também inclui bordados feitos por Bruna com imagens de ultrassom e linhas coloridas.
A poeta conta que, durante a gravidez de sua primeira filha, entendeu que também estava gerando uma nova forma de escrever: “A novidade, os hormônios, as expectativas e as sensações únicas da gestação me inspiravam poesia a todo momento. Logo percebi que aqueles textos que estavam surgindo tinham uma identidade em comum: eram ‘poemas para Liz’”.
O livro foi escrito nas mais diversas e improváveis situações, especialmente após o nascimento de Liz: “São textos molhados de leite, suor e lágrimas, muitos vezes com uma bebê no peito, no escuro das sonecas de dia, nas madrugadas em claro, nos refúgios no banheiro, no desespero da privação de sono e no êxtase do encanto com a vida.”
Além do desejo de expressar o que vivenciou durante seu processo de se tornar mãe, Bruna afirma ter sido motivada a publicar esse livro por considerá-lo necessário: “As mulheres tiveram suas experiências de gestação, parto e puerpério historicamente silenciadas, distorcidas e medicalizadas por séculos. Precisamos recuperar nossas vozes e promover um debate que leve nossas vivências reais em conta.”
Juliana Goldfarb considera que poesia de Bruna Escaleira revela uma maternidade nem sempre vista em capas de revista ou redes sociais e destaca isso no posfácio que assina: “Bruna fala de lugares ou comportamentos invisíveis, sujos ou interditos na poesia: a falta de privacidade no momento de suas necessidades básicas, a privação de sono, o banheiro como um lugar de fuga e respiro, as espinhas e pêlos que invadem esse novo corpo já com tão pouco tempo para si, o cansaço e o corpo marcado por novas dores, novos contornos”.
A escrita como ofício e sobrevivência
Bruna Escaleira nasceu em 1988 em São Paulo. Além de escritora, é formada em Jornalismo pela USP, pós-graduada em Jornalismo Cultural pela FAAP e Mestra em Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa pela USP, com dissertação sobre poesia erótica e feminismos. Além disso, foi editora da Revista Nova Escola e atuou em projetos de organizações feministas, como Chicas Poderosas. Hoje, é sócia da Canôa, consultoria de diversidade e inclusão para empresas e escolas. Também mantém uma coluna sobre literaturas feitas por mulheres e maternidades para a Revista AzMina e ministra oficinas de escrita criativa, literaturas e feminismos.
Tem três livros de poesia publicados, entranhamento (Patuá, 2014), algo a declarar.;’ (Com-Arte, 2016) e “poemas para Liz” (Arpillera, 2023) e um no prelo: terraíz (Triluna, 2025). Participou de diversas coletâneas, como: As cidades e os desejos (Aliás, 2018), 69 poemas e alguns ensaios (Oficina Raquel/Jandaíra, 2020) e Coleção Desaguamentos (Escaleras, 2021).
Escreve como ofício, mas, como poeta, afirma que a escrita está presente em sua vida desde muito antes disso e funciona como uma questão de sobrevivência. Entre suas obras prediletas estão “Magma”, de Olga Savary e “Educação sentimental”, de Maria Teresa Horta. A lista de referências de Bruna é bem mais vasta, contendo também Adélia Prado, Ana Cristina César, Clarice Lispector, Hilda Hilst, Carlos Drummond de Andrade, Ítalo Calvino, Ondjaki, Adília Lopes, Angélica Freitas, Adelaide Ivánova, Lubi Prates e Lupe Gómez.
Em setembro, a autora prevê a publicação do seu primeiro livro infantil, "O dia em que a lua fugiu", pela Editora "Escuta Aqui Bem-te-vi".
Confira mais um poema do livro:
“descobrir o mundo com minha filha é encontrar argila fresca no fundo do riacho da
minha infância
e descobrir que ele que não secou”
Adquira “poemas para Liz” no site da Editora Arpillera:
https://editoraarpillera.