

Cuiabá - MT, 27-05-2022 às 11:22
Oriana Paes de Barros foi a primeira mulher no Brasil a presidir, por eleição, uma Federação de Pescadores.
Publicado em: 10-07-2021 15:08hs | Fonte: João Carlos Vicente Ferreira.
Uma mulher que deixou seu nome indelével não história | Creditos:
* Por João Carlos Vicente Ferreira
As mulheres têm sido líderes em todos os principais movimentos, embora suas contribuições muitas vezes não sejam reconhecidas. O movimento ambientalista não é exceção. As mulheres que se esforçam para melhorar neste campo enfrentaram muitos desafios, mas com habilidade e determinação, elas perseveraram.
No mundo, o movimento ambientalista tem mais de dois séculos com gerações de mulheres moldando políticas e leis no campo, resultado da poluição ambiental cada vez mais evidente e da degradação do ar e das águas.
Em Mato Grosso não temos uma data para determinar o período exato do começo do movimento ambientalista, mas temos um nome para ser perpetuado na história por levantar a bandeira à defesa do meio ambiente, muitas vezes correndo grande risco pessoal: Oriana Paes de Barros, que foi a primeira mulher no Brasil a presidir, por eleição, uma Federação de Pescadores.
Falo dessa excepcional mulher em nome de amigos, admiradores e de membros do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso, à qual pertenceu como sócia efetiva até seu falecimento, em 8 de junho de 2021. Desde que adentrou à Casa Barão de Melgaço pretendeu mover céus e terras pela perpetuação da memória histórica de Mato Grosso. Tinha muitos planos, projetos e desejos de realiza-los. Compartilhou muito desses sonhos comigo, eu sabia do seu intento e tinha convicção de sua realização. No entanto, ainda em 2017, ela já não andava lá muito bem com a sua saúde. Isso atrapalhou seus planos.
Oriana tinha duas grandes paixões em sua vida. A primeira era o Pantanal de Mato Grosso e a segunda Antônio Paes de Barros, do qual descende sua família.
Ela sentia-se à vontade quando estava no Pantanal. Ali era o seu verdadeiro lar. A sua morada estava em cada curva de corixo, recheado de aguapé, ou no topo das árvores, arqueadas pelo peso dos ninhais e dos barulhentos bugios. Quando colocava sua bota no assoalho de uma voadeira a cortar as águas do Cuiabá seu semblante se transformava, era outra mulher: “Isso que é vida, amo o Pantanal”, dizia a si mesma e a quem quisesse ouvir. Eu ouvi essas palavras, por ela proferida. Quando ditas que amava aquela imensa planície alagada parecia que seus braços queriam abraçar toda a extensão daquelas águas e tudo o que tinha dentro, inclusive o cavalo e o povo pantaneiro.
Ela brigou com o sistema pela preservação do meio ambiente poconeano, subiu em barrancos e criticou a forma criminosa do extrativismo aurífero daquela cidade. De certa forma perdeu a batalha, mas não a admiração de muita gente que passou a respeitá-la ainda mais.
Falava com muito orgulho de sua descendência de Antônio Paes de Barros - o Totó Paes, o homem que imaginou e criou a Usina do Itayci, às margens do rio Cuiabá, em Santo Antônio de Leverger. Totó Paes é considerado o “Pai da Indústria em Mato Grosso”. Esse amor que Oriana tinha por Totó Paes levou-a a pesquisar bastante sobre sua vida, tinha ideia de escrever um livro mostrando uma outra face do parente industrial e político. Ocorre que Totó Paes enfrentou inimigos poderosos que não admitiam o fato dele ser um portentoso industrial e exitoso político. Por conta disso o assassinaram quando exercia o cargo de presidente do Estado de Mato Grosso. Pior, fizeram de tudo para manchar a sua reputação com publicações apócrifas e a completa ruína financeira de patrimônio. Tentaram apagá-lo da história de Mato Grosso, e isso Oriana não permitia. Em vida fez todo o possível para elevar o nome de Antônio Paes de Barros ao patamar que ele merece. Conseguiu muito de seu intento. No entanto, queria mais. Acho que ainda vai conseguir realizar o seu desejo.
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Joao Carlos Ferreira é escritor e historiador, ocupante da Cadeira 27 da Academia Mato-Grossense de Letras. Presidiu o Instituto Historico e Geográfico de Mato Grosso e foi secretário de Estado da Cultura de Mato Grosso.
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